02 dezembro, 2011

Dezembro

"É, Dezembro, parece que a nossa relação está chegando ao fim. Não que eu fique triste, me desculpe a franqueza, mas nunca simpatizei muito com você. Sei que a verdade muitas vezes fere, mas prefiro a sinceridade do que a enrolação. Chega de meio termo, meia verdade, meia calça. É ou não é? Você faz a gente sentir calor, aposentar as botas, gastar mais luz com o ar-condicionado. Dezembro, você me faz transpirar. E ficar vermelha, pois o sol fica forte demais quando está sob o seu comando.
Sempre falo, mas você nunca ouve. Não fique influenciando Novembro. Deixe ele quieto, coitado do mês. Mas você fica ali, buzinando no ouvido dele, então o pobrezinho se agita, acha que precisa marcar presença, te agradar e começa a pendurar um monte de Papai Noel em portas e sacadas. Isso não se faz, Dezembro, tome jeito no próximo ano, por favor.
Você podia ser mais educado. As pessoas vivem correndo quando você chega, já percebeu? Acho que no fundo você gosta. Fica todo exibido quando fazem fila pra você. Fica todo bobo quando vê um congestionamento. Fica todo saliente quando vê rodoviárias e aeroportos lotadinhos. Isso pra mim é falta de autoestima, sabia? Para com isso, Dezembro. No próximo ano, vou fazer uma vaquinha para você fazer terapia, tá legal? Vê se trata logo dessa doença, dessa loucura toda em ver a correria do povo. Fora os gastos, né Dezembro? Você adora ver todo mundo mais pobre. E mais gordo (me explica pra quê tanta comida?)
Quero te contar uma coisa. Vai doer, mas preciso contar: muita gente te detesta, não sou só eu. Já percebeu a grande festa que todo mundo faz quando você vira as costas? Só as crianças são malucas por você (na verdade, elas amam os presentes, isso sim. Na verdade, você é o grande inventor do Papai Noel. Enganar criança não é nada legal, Dezembro.)
Vamos parar logo com isso. Sabe qual a época que mais gosto? Seus últimos dias. Adoro ver você indo embora devagarinho. 28, 29, 30 são meus dias preferidos, mas adoro mesmo é o seu último dia de vida. O mundo inteiro comemora a sua ida. Fogos de artifício, música, abraços. Dezembro, antes de ir embora, vamos fazer um brinde. Vem cá, me dá um abraço. Depois pode ir, viu?"

(Clarissa Corrêa)


Nenhum comentário:

Postar um comentário